sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O ESTUDO COREOLOGIA NO ACC ACESSIBILIDADE EM TRÂNSITO POÉTICO

                                           O ESTUDO COREOLOGIA NO
                        ACC ACESSIBILIDADE EM TRÂNSITO POÉTICO

                                                                                                      Catia Assução1

            A experiência de participar do ACC - Acessibilidade em Trânsito Poético. Oficinas de dança e arte para pessoas com deficiências, seus cuidadores e comunidade em 2010.2, sobre a orientação da Profª Drª Fátima Campos Daltro de Castro foi de grande importância para minha formação como Discente do Curso de Licenciatura em Dança.
A deficiência seja física ou mental tem sido discutida no campo da educação, tem-se buscado estratégias para o desenvolvimento metodológico que faça a inclusão total das Pessoas com Deficiência no que se refere à construção de conhecimento para área de Dança.
Por essa razão busquei como monitora do ACC, trabalhar Coreologia como Prática Pedagógica em Dança. 
A coreologia foi desenvolvida pelo Educador e Dançarino Labam2 segundo o mesmo a Coreologia é o estudo da dança, e possibilita uma educação harmônica e integrada do indivíduo que o torna capaz de fazer, compor, entender e apreciar a dança dentro de uma perspectiva crítica. Abrange o movimento, o dançarino, o som e o espaço geral que articulados formam a dança. Conhecer os espaços-temporais ou a lógica da dança possibilita uma melhor compreensão e reflexão do contexto cultural em que a dança se insere e como ela se organiza. Como forma de potencializar o corpo para a poesia da criação.
Como cita “Daltro3 a dança precisa consolidar o discurso de sua valorização enquanto corpo capaz de poetizar, entendendo-o dentro da perspectiva co-evolutiva entre o corpo biológico e cultural.”




[1] Discente do Curso de Licenciatura em Dança/ UFBA 
2 Rudolf Von Laban Educador e Pesquisador de Dança
3  Prof.ª  Dr.ª Fátima Daltro é Professora da Graduação e do PPG Dança -UFBA 


 O trabalho de Coreologia no ACC teve como foco norteador, potencializar a autonomia criativa dos educados do ACC. Para isso buscou-se a Teoria da Pedagogia da Autonomia do Profº Paulo Freire4.
 A Pedagogia da Autonomia (FREIRE, 2003, p.94-96) deve estar centrada em experiências estimuladoras da decisão, da responsabilidade, ou seja, em experiências respeitosas da liberdade. Para isso, ao ensinar, o professor deve ter liberdade e autoridade (FREIRE, 2003, p.104), em que a liberdade deve ser vivida em plenitude com a autoridade.
Em cada Ciranda de Estudo da Coreologia,buscou-se no ACC desenvolver abordagem do movimento/espaço cênico para a criação de células coreográficas, fazendo que o educando Portador de Deficiência desenvolvesse estratégias para criação em dança com conteúdo matemático como círculos, quadrados e triângulos,desenhados no chão.A partir das ações realizadas no exercício de explorar diferentes formas de movimentar o corpo: formas geométricas (andar somente em quadrado, círculos, triângulos).
 A partir dessa experiência, os educandos pesquisaram formas de locomoções utilizando, as diagonais, Ao explorar cada uma dessas formas geométricas, no final de cada umas delas, todos param e nesse momento cada um percebe as modificações/transformações em seu corpo, e faz um retrato de si daquele momento, sendo explorada diversas formas de fazer esse auto-retrato como, fotografia, escrita, descrições, vídeo, desenho.
  No final do aquecimento selecionaram os movimentos e criaram células coreográficas. Para cada ciranda do ACC, houve acréscimos nos exercício de Coreologia, mais se buscou também a repetição de alguns exercícios para que houvesse nos educandos a memorização dos exercícios desenvolvidos nas cirandas.



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4 Educador e filósofo brasileiro. Destacou-se por seu trabalho na área da educação popular.





Os Procedimentos foram os seguintes:
1-Pesquisar formas de locomoções utilizando, as diagonais, círculos, quadrados e triângulos desenhados no chão.
 2- Ao explorar cada uma dessas formas geométricas, no final de cada umas delas, todos param,onde estão e cada um percebe as mudanças espaciais e como  o  corpo se ajustou no espaço cênico.
 3- A partir das observaçõesdos ajustes corporais no espaço cênicos, os educandos selecionaram  movimentos e criaram células coreográficas.

4- Depois de dessa fase houve a mostra das células coreográficas.

No que se refere o estudo da Coreologia, deve-se considerar fatores de construção criativa como: níveis, planos, tensões espaciais (onde tem espaços para exploração na dança), progressões (como o corpo se locomove no espaço), projeções(desenho imaginário do corpo, a partir de um membro) e formas(contorno do movimento realizado).

No mundo, as possibilidades de rompimento e de deslocamentos são latentes e estão fadadas a acontecerem. A dança e o corpo que dança pertencem ao mundo da transitoriedade, da estabilidade sutil, semelhante à do corpo do equilibrista quando passeia sobre o fio desafiando a gravidade e impondo ao corpo um movimento intenso entre ajuste e desajustes do equilíbrio. Um suspense que invade o espaço do espectador até que se conclua a travessia”
                                                                              (DALTRO, 2007, p.25)


Foi observado que os educandos compreenderam as regras das atividades. O exemplo da educanda Carla Souza que possui Paralisia Cerebral. Carla é dançarina cadeirante, já freqüenta o ACC há quatro anos. Como estratégia ela utilizou suas capacidades criativas com pequenos movimentos.
Carla percebeu que conseguiu com esse exercício movimentar partes do corpo que ela nunca tinha movimentado. Ela percebeu que podia mesmo com dificuldades movimentar seu corpo, criando dessa forma sua célula coreográfica.  Percebeu-se com a experiência do Estudo da Coreologia no ACC, a necessidade defendida por Freire no que diz respeito a exercermos nossa autoridade docente com a segurança fundada na competência profissional, aliada à generosidade. Acredita que a disciplina verdadeira não está “... no silêncio dos silenciados, mas no alvoroço dos inquietos” (FREIRE, 2003, p.93), na esperança que desperta o ensino dos conteúdos, implicando no testemunho ético do professor- isto seria a autoridade coerentemente democrática vinda com Acessibilidade a Autonomia das Pessoas com Deficiência.
            Outro educando que teve boas resoluções corporais com os exercícios de Coreologia foi Jaquaracy Santos, Jaguar como é chamado pelos participantes do ACC, possui síndrome de Down e começou a participar do ACC nesse Semestre.
 O desenvolvimento de Jaguar foi gradual, a cada ciranda nota-se a participação e o entendimento dele nas atividades. Havia momentos que ele ficava em total silencio observando a explicação e a participação de outros educandos, depois de suas observações, começava a participar das atividades de Coreologia.
 A partir das ações realizadas no exercício de explorar diferentes formas de movimentar o corpo: formas geométricas (andar somente em quadrado, círculos, triângulos). A partir dessa experiência, Jaguar pesquisou formas de locomoções que estavam desenhados no chão.
Havia momentos que ele se comunicava com a fala.
 As movimentações de Jaguar intercalavam-se em movimentos explosivos e movimentos lentos, observou-se que ele conseguiu desenvolver e formatar células coreográficas, nas diferentes Cirandas do ACC. Assim como se percebeu que na fase final do ACC, Jaquracy teve boa interação com os demais participantes do ACC Acessibilidade em Trânsito Poético.
               Deve-se relatar ainda, que o trabalho de criação dos educandos,favoreceu o processo metodológico  das Cirandas ACC.A partir desta experiência, nota-se que foi significativo o trabalho com Coreologia para os PCDs. Pode-se afirmar que houve a construção coletiva dos educandos do ACC.
Construção necessária para demonstrar que é possível desenvolver produção de conhecimento com a contribuição dos educando, como agenciadores do processo de aprendizagem. Esse fato foi observado no decorrer das analises desse estudo seja por relatório, fotos ou vídeos a contribuição dos educandos do ACC nas Cirandas Artísticas.
Principalmente utilizando a prática da Dança como facilitador eficaz para a construção de conhecimento. O presente estudo concluiu a importância da Coreologia como forma de estratégia para criação em dança junto aos educandos  PCDs do ACC.
Buscou-se também nesse estudo, trazer à discussão a contribuição dos PCDs no processo da construção de conhecimentos de dança. Afastando a Idéia de tê-los como incapazes e até de débil. Esse estudo teve a contribuição da Profª Fátima Daltro que nos orientou tanto a Teoria como a Prática de Ensino,houve  também a contribuição da Mestranda Bárbara Santos que trouxe para o ACC,a contribuição de seus estudos como Mestranda do Curso de Pós Graduação.
Houve contribuições também de estudantes da área de Pedagogia,Artes Plásticas,Psicologia e Dança. Notou-se no ACC a grande tarefa de ensinar que segundo Freire “Exige humildade, tolerância e luta em defesa aos direitos dos educandos e exige também, a apreensão da realidade (FREIRE, 2003, p.66)”.
 Pode-se observar o quanto a dança vem desenvolvendo pesquisas necessárias para mudança de antigos paradigmas no que se refere a corpo/dança. Como monitora do ACC pôde perceber o quanto foi gratificante participar, facilitar e desenvolver junto com a Profª Fátima Daltro, os educandos (PCDs) e de outros estudantes universitários a prática pedagógica no ACC.
Referências
DALTRO, Fátima, Corpo Sitiado...A comunicação Invisivel.Dança,Rodas e Poéticas.São Paulo,2007.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia - saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2003.