segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Relatório sobre as Reflexões Poéticas dos participantes do ACC Acessibilidade em Trânsito Poético DANA 59 referentes ao 1º Semestre de 2011.

Universidade Federal da Bahia
Escola de Dança
Programa de Extensão



   



Relatório sobre as Reflexões Poéticas dos participantes do ACC Acessibilidade em Trânsito Poético DANA 59 referentes ao 1º Semestre de 2011.





Trabalho requisitado como resultado da disciplina “Dana 59” sob orientação do Prof.ª Dr.ªFátima Campos Daltro de Castro e Profª Drª  Lenira Rengel Peral


                                                                   






                                                               Salvador
                                             2011


1 Introdução

O ACC Acessibilidade em Trânsito Poético é um programa de atividade curricular em comunidade da Universidade Federal da Bahia (UFBA), coordenado desde 2004 pela Professora Doutora Fátima Daltro, e este ano também sob coordenação da Professora Doutora Lenira Rangel, ambas docentes da referida instituição. Ainda, é uma ação artística pedagógica que oferta oficinas de dança para pessoas com deficiência e seus cuidadores, na Escola de Dança (UFBA) todas as sextas-feira, no horário da 13 horas e 30 minutos até 15 horas, seguida por um grupo de pesquisa, Poéticas da Diferença. Ademais,



O ACC Acessibilidade em Trânsito Poético é o lugar onde damos continuidade a ações de dança, focalizadas em comunidades carentes da região de Salvador, especificamente pessoas com deficiência, com o objetivo de criar oportunidades para aproximá-los da dança e assim encontrar meios para dialogar com essa forma de expressão, desenvolvendo habilidades, a autonomia e, numa idéia mais ousada, prováveis multiplicadores. As ações aproximam os elementos básicos da dança (espaço, tempo, movimento, vivências rítmicas, jogos coreográficos, repertório de memória individual e coletiva), recursos para que possam desenvolver o olhar estético e crítico sobre o fazer/pensar dança na contemporaneidade (PROJETO ACESSIBILIDADE EM TRÂNSITO POÉTICO).



Além disso, é preciso relatar que todas as nossas oficinas que denominamos de Cirandas são realizadas na maior parte das vezes a partir do planejamento em equipe, individualmente ou em duplas, contudo sempre com intervenções de todos, inclusive e de maneira criativa, dos educandos. Partindo desse exercício de elaboração em conjunto, é que percebemos a necessidade de descrevermos a respeito do significado de construir o relatório também em equipe.
Sob isto, é notório que a contemporaneidade traz a passagem do fazer individual para a construção do coletivo de forma significativa e afetuosa. Há grande valorização para ir além, mas não sozinho e sim, juntos, para frente com os outros, fato este comum a todas as áreas. Acreditamos que este valor para o coletivo se deu por diversos ensejos, sendo um deles: a consciência de que o trabalho em equipe é necessidade histórica da espécie, de somar esforços para alcançar objetivos que, isoladamente, não seriam alcançados ou seriam de modo mais trabalhoso ao ponto de se tornar tão conflituoso e gerar desequilíbrio ao extremo.
Diante disso, trabalhar em equipe, organizar o relatório em grupo significa dizer que cada membro tem autonomia para contribuir e expor ideias de acordo com suas experiências pessoais. A construção de pensar em equipe, não invalida os saberes de cada um, não implica em eliminar as diferenças dos membros, e sim trabalhar estas diferenças – os conflitos.
Assim, o trabalho em equipe pode ser entendido como uma atividade de estratégia concebida para melhorar a efetividade e construir relações, trocas, elos que sozinhos seria impossível, pois precisamos dos laços estabelecidos no grupo para desenvolver o nosso fazer criativo e mais, precisamos de soluções de adaptação com o meio, de trocas para nos modificarmos e modificarmos o outro e, consequentemente, sobreviver.
Estamos aludindo ao que Foley (2003), escreve sobre a teoria da evolução darwiniana, refletindo que a seleção natural cria ambientes favoráveis para as adaptações e, estas são necessárias para a sobrevivência de todas as espécies. Destarte, o homem é o resultado evolutivo em processo que não se estanca, realiza soluções adaptativas com o meio, por isso, são estas adaptações que irão contribuir para a organização e (re)organização da equipe.
Logo, a construção desse relatório bem como de todas as atividades do semestre tiveram um significado desafiador, o de saber ouvir, compreender e (re)ssignificar os pensamentos do repetidas vezes até chegarmos a um trabalho de encerramento do semestre com contribuições de cada membro (alunos, monitores, voluntários, professores).


              








       Reflexão poética nº1
                                                                                                     Por Cátia Assunção

  No decorrer do 1º Semestre do ACC DANA 59 pode-se refletir, o quanto as atividades extraclasses do ACC, possibilitaram ganhos concretos entre os participantes do ACC e as comunidades visitadas, principalmente no refere-se, à autonomia dos estudantes e participantes envolvidos, irradiaram seus conhecimentos nos lugares por onde passaram, ou seja, são agenciadores da produção de conhecimento, afastando assim o equivoco de tê-los como incapazes e até de débil. Pode-se observar o quanto a dança vem desenvolvendo pesquisas necessárias para mudança de antigos paradigmas no que se refere a corpo/dança. Na relação familiar houve a participação de dois familiares que sempre acompanhavam seus filhos e a participação de todos de um modo geral nos momentos das mostras e eventos em que o ACC esteve presente.
Segundo Freire “A autonomia deve estar centrada em experiências estimuladoras da decisão, da responsabilidade, ou seja, em experiências respeitosas da liberdade. Para isso, ao ensinar, o professor deve ter liberdade e autoridade (FREIRE, 2003, p.104).


Reflexão poética nº2
                                                                                      Por Dilton Jesus
Na discussão dos textos, um dos pontos de reflexão recaiu sobre o conceito de dança inclusiva. A dança realizada por dançarinos com deficiência, cujos corpos considerados inaptos e ineficazes, para expressar essa arte, portanto, “doentes” na estatística vitimizadora do assistencialismo oficial, e que contrastam visivelmente com o padrão mecanicista do corpo belo e ideal para a dança. E, nesse contraponto, pode-se observar novas formas de ver e sentir as possibilidades de expressão artística para e com o corpo com deficiência em toda sua complexidade, potencialidade e fisicalidade, conforme Correia2 (2004)

“no que diz respeito ao fazer artístico, na arte contemporânea, a presença dos meios tecnológicos coexiste nos ambientes da vida cotidiana, faz parte do contexto cultural e dos processos artísticos no campo das mediações tecnológicas e de comunicação, e o corpo faz parte disso” (F. Daltro,2006)

O termo dança inclusiva vem sendo revisto, pois tende a  implicar numa exclusão implícita ao que se destaca, como sendo uma particularidade de dança, tomada apenas como um aspecto motivador de habilidades e de elementos distintos para atividades outras, e, não da arte de dançar propriamente dita, daqueles que são considerados incapazes de exercê-la, no dizer dos poderes interessados nessa reafirmação.
Nesse aspecto, Matos (2006)3 apresenta a produção da dança inclusiva como algo a ser repensado enquanto expressão artística inerente ao corpo que dança e suas fisicalidades.
Visto sob esse Ângulo, o Acessibilidade em Trânsito Poético pode demonstrar tanto nas cirandas, quanto nas oportunidades em que foi chamado a se apresentar em outros palcos, um grau de maturidade e “profissionalismo” que o fez destacar-se de modo original e competente frente a outros grupos de mesmo valor, inclusive, em técnica e arte.


Reflexão poética nº3
                                                                                                               Por Darlene Menezes

Diante das vivências e experiências propostas pelo ACC Acessibilidade em Trânsito Poético conclui-se que possibilitou conhecimento refletindo assim, no crescimento deles como alunos e nos como pensadores de dança e agentes de uma sociedade inclusiva e ao mesmo tempo exclusiva. Esse trabalho é a prova de que há possibilidades em meio à deficiência, mostrando assim, não pessoas doentes tentando realizar uma pratica de terapia, mais sim pessoas com deficiência, saudáveis, inteligentes realizando uma pratica para enriquecer seus conhecimentos, tornando-os assim artistas e dançarinos, divulgadores de suas verdades. Recorrendo as autoras Greiner e Katz2(2005,p.8) “O corpo é resultado de contínuas negociações de informações com o ambiente e carrega este modo de existir para outras instâncias de seu funcionamento”.
Reflexão poética nº 4
                                                                                                 Por Tamara Novais

O semestre de 2011.1, no ACC Poéticas da diferença teve como característica principal a produção de Cirandas. Dando-nos a possibilidade de explorar todas as possibilidades de movimento através de ritmos musicais típicos da cultura nordestina e ou brasileira. Com muita improvisação, alegria, plasticidades construíram um semestre com muita dança e molejos diversos, necessários pra quem se propõem a experimentar e a se transformar em um cirandeiro.Recorrendo as autoras Greiner e Katz1(2005, p.8) “O corpo é resultado de contínuas negociações de informações com o ambiente e carrega este modo de existir para outras instâncias de seu funcionamento”.

Reflexão poética nº 5
                                                                                                              Por Manuele Reis
Podemos refletir que o trabalho deste semestre do ACC – Acessibilidade em trânsito poético obteve bons resultado, cada ciranda atingiu os objetivos proposto. Em entrevista aos educandos eles declararam como o ACC, tem contribuído para seu desenvolvimento pessoal, social e artístico, principalmente em relação à autonomia, como exemplo cito a apresentação realizada no painel performático em que a educanda/monitora Mailza sem nem ter sido aconselhada finalizou a apresentação falando de sua satisfação, e agradecendo ao público, com uma presença de palco incrível. Com isso nota-se que a autonomia está presente na vida de cada um dos dançarinos do ACC.
Quando amamos profundamente o que gostamos de fazer, somos impulsionados por uma força interna, nos arriscamos à descoberta. A experiência da descoberta toma conta do nosso corpo, encorajando-nos a saborear intensamente as sensações que nos cercam. É como sentir a brisa suave que vem do mar acariciando nosso rosto, trazendo junto o cheiro do frescor da manhã.
(Fafá Daltro,2004)

Reflexão poética nº 6

                                                                                                Por Ana Clara Santos

Vale destacar que o Acessibilidade em Trânsito Poético participou do Painel Performático da Escola de Dança 2011.1, levando para a cena a composição Cirandas Poéticas fruto de todas as cirandas, sobretudo, obras de Rodin e Frans Kracjeberg, resgatando a cultura nordestina, utilizando como materiais os bambolês (confeccionados com fitas coloridas do Senhor do Bonfim) e mosqueteiro (material muito comum no Nordeste).
Considero esse trabalho das Cirandas Poéticas, o ponto chave para o processo desenvolvido durante o semestre 2011.1 do Acessibilidade em Trânsito Poético. Cabe aqui uma contextualização minha dessa obra com a autonomia co-(labor)ativas que Nogueira (2008) traz em sua tese, explicando que a autonomia não é algo independente, mas sim gerada pelas trocas com o ambiente. Poética, trânsito, possibilidades, exploração, conhecimento, relações, o cirandeiro, a cirandeira, os sons, pensamento, as redes, a energia...nada disso está distante, está no corpo, nas redes, Acessibilidade em Trânsito Poético!!!


Reflexão poética nº 7
                                                                                                       Por Dilsileide Aleluia

Minha reflexão sobre as atividades do ACC Dana 59 foram bem importante para o desenvolvimento dos alunos, instituições visitadas e de todos que fazem perte do ACC Dana 59. Como  cita Correia (2003)2”A dança precisa consolidar o discurso de sua valorização enquanto corpo capaz de poetizar, entendendo-o dentro da perspectiva co-evolutiva entre o corpo biológico e o cultural.”

Conclusão

Concluí-se que o ACC Acessibilidade em Trânsito Poético vem favorecendo a pesquisa em grupo sobre a questão da dança no corpo do dançarino com deficiência.Assunto relativamente novo, e tem sido discutido e despertado o interesse em diversos setores da sociedade. Sabe-se que as principais resistências têm como origem o preconceito, a falta de informação e da vivência com a diversidade. Romper essas barreiras é importante para socializar as informações sobre os modelos de inclusão e permitir que as teorias se aproximem e possam revelar a realidade emergente. Nesse sentido, o ACC DANA 59 , reúne reflexões desenvolvidas na área da dança e os modos de configurações da dança no e para o corpo do dançarino com deficiência. Chamo a atenção para o fato de que na arte, e, especificamente na dança, os discursos que emergem desses corpos falam do corpo vitima, incapacitado, o corpo coitadinho.
Idéias que estimulam a crença da ineficiência. Contrapondo essas ações equivocadas, trago o conceito de Corpomídia (Katz & Greiner, 2005), para discutir que a dança construída nos corpos, seja ele com deficiência ou não são produzidos e correspondentes às suas experiências, diante de todas as interferências que o cerceiam e obstáculos intrínsecos ao viver cotidiano. Considerando que o acesso a educação através da arte é um processo complexo e difícil para todas as pessoas, o que exige esforço, dedicação, incentivo e, condições adequadas para que este conhecimento tenha representatividade, para o dançarino com deficiência, esse incentivo deve ser redobrado com ações estimuladoras para a efetiva profissionalização e valorização nos meios artísticos.
Quando se considera estas noções no campo do discurso poético permitirá trazer à tona a complexidade que se estabelece no corpo do dançarino com deficiência e o aproveitamento de suas potencialidades. Uma tentativa de esclarecer os equívocos que cercam a construção da dança nessas pessoas apoiados no complexo de determinações sócio-historico-cultural que cercam o universo da dança tais como as tendências do corpo belo, ideal, corpo limpo, virtuoso, do corpo funcional e de alto rendimento, igual, sem identidade que até então vem sendo mantido.

Referências

Katz, Helena. Um, dois, três. A dança é o pensamento do corpo. Belo Horizonte: Ed: Fid. 2005.

DALTRO, Fátima, Corpo Sitiado. A comunicação Invisível. Dança rodas e poéticas. São Paulo, 2007.

FOLEY, R. Os Humanos antes da Humanidade: uma perspectiva evolucionista. São Paulo: UNESP, 2003.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia - saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2003.
NOGUEIRA, I. C. Poéticas de Multidão- Autonomias Co-(Labor)ativas em Redes. Tese apresentada à Potifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2008.


Nenhum comentário:

Postar um comentário